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Salve, Jorge !

Do Gogó da Ema aos holofotes hollywoodianos, Seu Jorge é uma das maiores vozes, em som e influência, da cultura brasileira. Sem dúvidas sobre quem é e suas escolhas artísticas, gera conversa através da sua arte popular, cult, favela. Sem fronteiras.

Fluminense de Belford Roxo, Seu Jorge começou a carreira no início dos anos 90 nas coxias da companhia de teatro da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a peça “A Saga da Farinha”. A TUERJ é um importante centro de formação cultural e ocupação popular, espaço de militância e convivência de grandes nomes da dramaturgia brasileira, com quem o artista aprendeu lições que carrega até hoje.

A experiência diurna do teatro somada às noites tocando em rodas de samba, bares da boemia carioca e participando de bailes de funk e charme da periferia foram o prelúdio de um artista que hoje transita entre o povo e premiações consagradas mundialmente. Trabalhando com uma constelação de nomes que vão de Fernando Meirelles e Fernanda Montenegro a Wes Anderson, de Tom Jobim e Marisa Monte a Alexandre Pires e Papatinho.

Estreia na música nacional com “A Carne” e “Samba Esporte Fino”

Estreou na música com o grupo Farofa Carioca, que como o nome propõe, fazia uma mistura de gêneros como o rap, samba, funk, MPB, soul e reggae com letras críticas sobre o Brasil e suas idiossincrasias. Da parceria com o músico Marcelo Yuka, veio o batismo artístico e também o single “A Carne”, do álbum “Moro no Brasil”. A música se transformou em hino da luta anti-racista na interpretação de Elza Soares e continua sendo entoada por novas vozes, nos palcos e nas ruas, mais de 20 anos após seu lançamento.

Farofa Carioca

Na virada do milênio, viajou com o Planet Hemp como percussionista da turnê de “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça”. A parceria foi apenas a primeira de uma série de feats, composições de um legado musical desprendido de gêneros, estilos e fórmulas de carreira, e que mantém o compromisso com nada além do que a música em si. De mais um “Silva”, Jorge começa a trilhar uma carreira pautada em experiências artísticas multifacetadas que originaram 7 álbuns solo, 3 Grammys Latino e mais de 30 participações e co-criações.

Marcelo D2 & Seu Jorge - 1967

E é no ambiente frutífero dos anos 2000 que se lança em carreira solo com “Samba Esporte Fino” (2001), um álbum de crônicas e caricaturas sociais produzido por Mario Caldato e Daniel Ganjaman que tem entre os destaques “Carolina”. O hit perpetuou sua presença nas calorosas noites de boteco como parte do setlist de novos artistas no samba.

Projeção internacional com “Cidade de Deus”, Wes Anderson e Bowie

A carreira musical do artista se projetava para o mainstream quando os relacionamentos com a classe artística renderam um convite de Fernando Meirelles para interpretar Mané Galinha em “Cidade de Deus”. Na prateleira de clássicos de relevância do cinema nacional, o longa catapultou Seu Jorge para os holofotes hollywoodianos sendo pioneiro de uma nova safra de brasileiros na competitiva indústria cinematográfica internacional.

Zé Galinha - Cidade de Deus [2002]

A visibilidade lhe rendeu um telefonema do diretor Wes Anderson com o convite para participar do cultuado elenco de “A Vida Marinha com Steve Zissou”. Como um artista de crossover, a voz mais uma vez virou elemento de cena. Para a interpretação do narrador Pelé dos Santos, Wes promoveu o encontro de Jorge com a discografia de David Bowie, um artista que assim como ele se tornou ilimitado em suas criações. E com o aval do artista, que disse: “Se Seu Jorge não tivesse gravado minhas músicas em português, eu nunca teria ouvido esse novo nível de beleza que ele as imbuiu”. As interpretações de faixas clássicas do camaleão como “Life on Mars” e “Rebel Rebel” adaptadas para o português criou uma conexão criativa entre os dois artistas e culminou na assinatura da trilha do filme e uma turnê mundial de tributo a Bowie alguns anos depois.

Entre os atores com quem contracenou estão Tom Hanks, Anjelica Huston, Bill Murray, e entre os brasileiros Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Wagner Moura, e muitos outros. Apesar do casting de estrelas, como ator, Seu Jorge sempre viu o cinema como uma arte horizontal, em que todos os atuantes estão trabalhando de forma coletiva para a realização de uma obra em comum. Isso fez com que nos anos seguintes ele fizesse um mergulho na sétima arte que hoje soma um legado cinematográfico de mais de 20 filmes.

Carreira musical reconhecida em cinco continentes

Ainda na Europa, a estadia em Paris o trouxe de volta a música com “Cru” (2004), um álbum de intérprete com faixas como “Chatterton”, de Serge Gainsbourg, além de “Tive Razão” e “Eu sou Favela”, essa última em parceria com Noca da Portela. O feat com o artista pop Matthieu Chedid em “Je Dis Aime” ajudou a apresentar Jorge ao público francês e culminou em uma turnê em estádios, e a presença de 20 mil pessoas no show. Pouco depois, Jorge retribuiu a experiência a Matthieu com o convite para se apresentar no Réveillon de Copacabana, um dos pontos altos da carreira de ambos os artistas.